Maria João Worm


intervalo (exposto) na conversa sobre as exposições
16 Maio 2009, 9:16 pm
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Um blog é um aparelho.

Sinceramente gosto da palavra aparelho. Embora tenha em si o conteúdo artificioso, onde se adivinham mecanismos e manivelas tem também,  a rima fácil com escaravelho. O que quero com as palavras nunca ou raramente se mantém numa direcção. Provávelmente haverá muitas pessoas com este tipo de relação com as palavras. Talvez que ao querer levar-me tão sériamente no que quero tão sériamente dizer, o discurso vá para um plano tão afastado do que é a vida que depois tenha de me dispersar para me parecer que o que digo está num plano mais afim às variações que nos assaltam. Escrevo e sei que sermos assaltados, ou seja lá o que for que possa dizer, vai levar a outro lugar quem se der ao trabalho de ler isto. Mas isto não me deve afastar do que me pareceu importante dizer acerca das minhas reflexões acerca do que é um blog.

Um blog é uma espécie de tear onde cada passagem permite que se acrescentem e juntem palavras e imagens. Dele resulta um acumular de registos que seguem a ordem do tempo e ganham a forma comprida de um calendário de parede vertical.

Quem o visita pode escolher a velocidade com que o padrão formado neste tecido pode passar, pode ser vertiginosa, como quem vai de bicicleta numa descida a deixar para trás o enevoado do que se vai adivinhando e evitávelmente  substituindo.

Enquanto vai saindo do tear, o pano tem a forma de uma passadeira que desde a porta de entrada da casa avança pelo corredor. Mas de cada vez que se acrescenta encontra-se à entrada. Como se fosse feito de pequenos tapetes que nunca passam a porta por si próprios e precisam de mais fios que os empurrem.

Poderia parecer uma carta. Eu gosto de cartas, uma carta caligraficamente escrita, ou simplesmente uma carta redigida e posta num envelope com um selo e destinatário. Mas neste caso a carta parece escrita em golfadas, do fim para o princípio.

As palavras manuscritas ficam paradas no tempo presente, dentro de um envelope e seguem em viagem com encontro incerto mas marcado com o seu destinatário.

Pode parecer que num blog acontece o que por vezes acontece com algumas cartas, atiradas com tal inclinação que silenciosamente regressam ao remetente.

Mas aqui as palavras esperam sem suspenderem o tempo nem sairem do lugar. Se se mantém a intenção de encontro, ele é tranquilamente incerto e sabe que é dispensável.

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