Maria João Worm


Não penso que se nasça iludido ou ignorante do que nos é próprio
18 Junho 2009, 10:05 pm
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o dinossauro com que começei... a fazer cartoon

o dinossauro com que começei... a fazer cartoon

(continua) Continua o escrever fora do que me propus fazer. Hoje acordei com este pensamento que poderia perfeitamente ficar só para mim. De qualquer modo existe esta vontade de dizer. Não que se cumpra uma missão, nada disso. Apenas o movimento, o que faz com que se emprestem livros e que nos deixa assim, entre o princípe das mãos vazias e uma parábola a escolher. Provávelmente tem moral. Já nem sei se felizmente ou o contrário.

Dei comigo a pensar na distorção, nas boas intenções, no enredo da educação. Escrevo sem saber exactamente onde isto vai parar. Nem se trata de arrojo, poucas pessoas lerão isto mas insisto. Porquê? Não sei mas suspeito de uma grande vontade de ouvir quem diga ou escreva o que está para além de mim até o saber. Sem dúvida que o que acabo de escrever pode ser interpretado como  contradição com o belo título deste post. Mas penso que uma coisa é ser individualmente, outra coisa é passar à comunicação. Nascemos desinteressadamente do outro, precisamos dele para subsistir. Se nos forem facultadas as acções que nos permitem a sobrevivência, logo aí nos destacamos. Os que choram mais ou menos. Os que cedo aprendem o jogo do poder do afecto, ou os que pelo contrário prolongam a dormência de se bastarem a uma existência, sem  mais.

o mesmo dinossauro com que começei, nos anos 86

o mesmo dinossauro com que começei, nos anos 86

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Quem disfarça melhor são os peixes porque choram dentro de água
8 Junho 2009, 9:55 pm
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conversaTempo. Assunto para uma redacção. O senhor Tempo que passa. O senhor Tempo, provávelmente por vezes tem o trabalho que eu saberia ter. Ir rua abaixo, em direcção contrária, a sorrir momentâneamente, quase indiscriminadamente. Uma violência simpática e ao mesmo tempo uma sobrevivência empática que cumprimenta o outro.  É possível dizer adeus a desconhecidos, um num comboio outro na gare.  Saber exactamente que nesse encontro/despedida se pode ser um pouco mais do que normalmente e não se sabe bem porquê. Pode ser uma espécie de movimento inconsciente, mas a sê-lo,  utiliza a espontaneidade de poder ser só  coisa que sai do corpo. E se o comboio pára e quem se cumprimentou continuar o começado. Se duas pessoas conversarem.



Acerca da exposição “de rosto voltado para o sol”
1 Junho 2009, 8:13 pm
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oratório, caixa em mdf, fundo com gravura e colagens sobre papel e pequena escultura ( neste caso, um burro) suspensa, 75x37,5x20 cm

oratório, caixa em mdf, fundo com gravura e colagens sobre papel e pequena escultura ( neste caso, um burro) suspensa, 75x37,5x20 cm

 

” terminadas todas as pequenas tarefas, adormeço de rosto voltado para o sol” é um excerto, traduzido por António Graça de Abreu, do último poema de Bai Juyi.   Foi uma exposição, feita na Galeria  Trema em 2001. Parti de poemas de dois poetas chineses do periodo Tang; Li Bai e Bai Juyi.  O tempo estava acertado pelo encontro com os poetas e apesar de por vezes ser  difícil porque tinha dúvidas por estar a ir buscar referências de uma cultura que me fazia sentir dividida. Por um lado a escrita atravessava o tempo, por outro lado, sabia que tinha de me guiar com cuidado, pois o que sei que me tocou é mais do que isso, teria de haver o respeito de evocar uma cultura da qual precisei de saber mais.  A Lua esteve sempre presente , quer em poemas, quer em reflexão.  Claro que se pode questionar tudo mas se um trabalho é feito por dentro, mesmo que se possa escavar em niveis mais profundos, o que se apresenta tem em si mais do que “eu”. Se há coisa que não se pode enganar é a consciência e a profundidade. Pode ser-se pouco hábil. Fica assim assente que me orgulho e morro do mesmo, uma capacidade incapacitante. Não há uma parte que vença nisto, o orgulho cai  e o lugar onde me encontro faz com que, do quase nada, se dignifique ser.  Fui levada por palavras, o género de arrebatamento que as paixões fazem.  Nas palavras encontrei paragens para nos sentarmos,  perder tempo e ganhar tempo. De facto este contar compassado que não nos dá descanso, diz-nos cada minuto. Em cada instante morrem as memórias, mamutes que viveram e que agora mortos formam a exacta passagem de cada segundo. Pesam,cadáver e história. O tempo em que fiz esta exposição embora tenha evocado a lua, vivia sob o sol. Um sol que na sua capacidade extrema dá a luz e queima. Mas nesta altura era sobretudo a luz que aquece e alumia, mesmo os pensamentos lunares.

Escrevi assim no catálogo: ” Sei que estive a trabalhar sobre uma tradução de poemas chineses e tentei cada vez que entrava na sala onde pinto, evocar a ideia longínqua de uma cultura que apenas senti ao de leve. Tentei encontar-me com Li Bai e Bai Juyi. Tive em conta o meu caminho que ainda percorro e os caminhos cumpridos destes dois poetas. Fui com eles a montanhas, bebi taças de vinho, deixei emocionar-me e deixei que o que fui fazendo se enchesse do espírito que eu queria tanto que ainda tivesse sido mais simples. Encontrei-os em tardes mais críticas e difíceis, em noites menos libertas e em pequenos conhecimentos e referências com que estruturei os porquês de algumas decisões plásticas. A poesia atravessa o tempo e eu quis aprender a brindar à vida com o mesmo amor que nos parece unir. Os meus limites tornaram-se meios de representação e registo. ” De rosto voltado para o sol” que é a frase traduzida do último poema de Bai Juyi, aplica-se à vida e à morte. A mesma paz essencial.

A Li Bai, amante de espaços abertos e senhor do seu dom livre da escrita, couberam as pinturas. A Bai Juyi, mandarim, homem estudioso e construtor dos seus jardins,couberam as gravuras de minúcia mais contida.”

Escolhi dois oratórios (para acompanharem este post), de entre os outros trabalhos . Parte da exposição está no site www.quartodejade.com , em galeria , a capa do catálogo tem uma série de gravuras em sequência; o importante nessa série é o processo. Partindo de um linóleo que vai sendo escavado e de cada vez sendo impresso até chegar ao não ter o que imprimir e que mesmo assim se revela numa imagem abstracta, aparentemente difusa, queimada. Assim podem ser as marcas que ficam, terminadas as pequenas tarefas.

oratório, caixa em mdf, fundo com gravuras e colagens sobre papel, e pequena escultura ( neste caso o macaco) de papel,suspensa, 75x37,5x20 cm

oratório, caixa em mdf, fundo com gravuras e colagens sobre papel, e pequena escultura ( neste caso o macaco) de papel,suspensa, 75x37,5x20 cm