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Neste número 4 da revista é traduzido parte de um texto inserido num livro de viagens, aliás esta edição toda ela está relacionada com registos ligados a experiências relacionadas com viagens e diários.
Da varanda tenho uma piscina lá em baixo, não é muito grande mas a esta hora da noite é de um azul iluminado que tem verde; não muito mas tem, e as luzes debaixo de água fazem pestanas de luz. São como olhos iluminados debaixo de água.
As varandas têm grades horizontais para não parecerem grades. Servem para proteger da altura a que estamos perante esta luz que parece dizer, sem pestanejar, “mergulhar”.
O rio à frente é negro, sem olhos que nos chamem e nos queiram encandear. O rio nisso é sincero, profundamente verdadeiro, assustador.
Gosto de viajar para me ter e me sentir fora do hábito. É mesmo assim. Percebi que a minha estranheza com o conhecimento se prende nas águas profundas, onde está a indefinição. Aquilo que não se explica nem se tenta explicar porque é inteiro na irresolução.
Tudo o mais são pedaços, como nas fotografias. Ninguém pode enquadrar o tamanho inteiro do rio. Mesmo se conseguissemos seria a superficie.
Tenho entrado em várias igrejas. Pelo conforto de entrar num espaço fechado e fresco mas também pelo que nele se projecta. A forma em cruz da planta das igrejas românicas é simples, mesmo quando parece ser a união entre a linha vertical e a horizontal. Ligar o céu e a terra numa construcção fisica. Se entras nele és o ponto de encontro. Este é o meu lugar, o lado mais fisico.
Vi imagens de rara beleza e sei que a sua beleza está em terem sido construídas por pessoas que conseguiram transmitir o amor. O Santo António a segurar com cuidado e firmeza o menino, foi feito por alguém que se não teve um amor menino, filho ou outro, soube ver nos contemporâneos isso acontecer. Nada espiritual se acrescenta a isto. Isto em si é espiritualmente suficiente para unir o céu e a terra e atravessar o tempo.
Não posso, trabalho nos meus limites e já nem quero ser mais inteligente, quero apenas ser eu, com esta verdade em que se perde o pé. Venham as dúvidas. Venham conforme for acontecendo a vida que no fundo se perder o pé, tenho o esforço da braçada que vai fazer o coração bater mais depressa. Será possível que isto seja a minha paz? Neste momento parece mesmo verdadeiro.
Estou sózinha na mesma, com as pessoas continuo a fazer enquadramentos, como no desenho à vista. Um diálogo acertado em que gastamos o tempo ao mesmo tempo. Estou perante, nem adiante nem atrasada. Dentro do que posso vejo e deixo-me atravessar filtrando o que vejo. Escolho pouca coisa mas escolho. A água cega e estrangeirada da piscina provoca-me tonturas e convida-me ao suicidio mas a morte lenta do rio, com a água negra é para onde vou, já estando lá agora.
É para sempre, muito antes e depois de mim e encontro nela o meu lugar.
(Albertha S., 2006 viagem ao longo do rio Douro em Portugal, tradução de Mathilde Ferreira)
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Uma insónia é um tempo todo ele dedicado a estar e permanecer dentro e fora do tempo num contentor de desabamentos e estruturas de sobrevivência. Vive-se o presente nos pensamentos que têm a necessidade fisica de respirarem como se fossem corpos. O silêncio ajuda a ter esse conforto que não tem posição e que se desajusta do sono. Estar assim de olhos abertos para o escuro a substituir sonhos por pensamentos dá um cansaço tão grande que toma o espaço inadiável de uma tarefa importante. Agora é a presença, na grande responsabilidade de pensar com a cabeça irrigada pelo corpo horizontal que finge estar quieto como no sono. A vigilia maior do que a vida, num intervalo ocupado pelos neurónios na pista, segue as marcas desenhadas no chão onde se repetem os movimentos das danças de salão. E se quem dorme tem acesso à plasticidade de experimentar deixar de ser apenas um, quem assiste sabe que participa no eterno ensaio que anuncia a morte. Não tem nada de trágico.
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Vou a passear o cão quando tenho as primeiras palavras deste post, o título.
Fizeram-me há pouco tempo esta pergunta penso que para me confrontarem com a minha individualidade, no que ela tem de mais próprio e aparentemente simples. Em principío ou se gosta ou não se gosta e eu continuando o passeio posso discorrer acerca da natureza da pretendida definição que se deseja seja clara e concisa. No meu salão neuronal, sem assistência, senão a assistência técnica dos meus limites e referências, circunstâncias e afectos, tento perceber se tenho a obrigação de afirmar.
Em boa verdade (e verdade é uma palavra desejada mas mal aplicada), eu julgo que não afirmo e que costumo passear por entre as minhas dúvidas, como se pensar fosse da mesma massa gelatinosa que imagino seja a matéria aparente do cérebro. Porém a definição do que somos tornou-se uma espécie de chave para a felicidade e para tal temos que aprender através das experiências com que somos confrontados. Será que tudo o que nos acontece é a vivência de uma pergunta; não poderão as experiências que temos na vida serem mais do que deambulações em torno de dúvidas que mudam de volume? De um modo capaz de unir sentidos e pensamento como daquela vez em que na rua me apercebi que de noite as árvores são mais altas? Mas eu não ía a perguntar nada sobre árvores, ou ía?
E será que temos que obter resposta para perpetuar a visão cartesiana que sintetiza o mundo em mecanismos mensuráveis, quantificáveis, belos porque verdadeiros e representáveis. Desbravando o mistério pela desconstrução obrigatóriamente seguida da análise dos componentes e depois uma sintese racional e bem descrita. A dúvida sem método mantém a dúvida e pode desdobrar-se noutras, e neste caso é inconclusão o que se tem.
ESTE BLOG VAI ENCERRAR POR TEMPO INDETERMINADO DEVIDO A DEMASIADA INCONCLUSÃO DE PENSAMENTO