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Anteontem assisti ao que me pareceu terrivelmente normal no processo de nos irmos habituando a tudo e que nos tolda a visão. Existe perto de onde eu moro um lago. Um lago com peixes e que tem uns nenúfares que na época em que florescem, nos fazem descansar os olhos e nos enlevam. O problema a que assisti tem que ver com a limpeza. Lagos artificiais, em lugares públicos que querem que os lagos apresentem a água limpa como se se tratasse de uma piscina pública, obrigando a que haja a rotina de os despejar e limpar de todo o lodo que se vai acumulando. A violência maior é que a dita limpeza implica o esvaziar das águas, o que faz com que os peixes que por ali habitam sejam recolhidos para baldes, ou irem literalmente pelo cano abaixo se têm o azar de serem pequenos. No dia seguinte à limpeza, já com a transparência que as nossas consciências deveriam ter, a água estava cheia de cadáveres de peixes a boiar.
Mortos, como nos massacres que a humanidade pratica com frequência. E hoje finalmente reparei que andavam a pescar os corpos mortos que tanto ferem a sensibilidade que vive da ideia de limpeza. Espero que não pareça patético, aliás não me importo que pareça patético, pois para mim é muito claro. Se querem uma piscina de águas limpas, não ponham peixinhos dentro delas. Deixem os nenúfares, com toda a hipocrisia da pseudo comtemplação. Sim eles são de facto superiores ao olhar do arrumo higiénico. Mas os peixes, por favor, existem dentro destes lagos artificiais, ao que parece, porque se substituiem fácilmente por outros parecidos e são o deleite das crianças e adultos que supostamente também são sensíveis aos nenúfares.
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