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“Acho que o que me custa é ver que sentir tem a beleza incompleta. Sentir é ver muito bem, mais por dentro das imagens, mas usamos sempre o corpo. Ele perde a vontade, o desejo e a capacidade da coisa vaidosa de ser encantador e passa a ser lugar que recebe sem poder dar encantamento. Fá-lo-à de um modo diferente, terá possivelmente o encanto de uma gratidão de poder aceder ao que não pode ser vaidade. Mas hoje aprendi que quem vive muito tempo ama-se tanto que o que lhe resta é comprazer-se na lembrança do que foi, e infelizmente na enganosa vista de se ter como pessoa dada a capacidades e actos extraordinários. Ouço-os e penso que seremos todos feitos desta capacidade de fazer o extraordinário mas sei que as patranhas se forjam nas entranhas sobreviventes. Quero morrer antes disto”. (lembrei-me deste texto porque ontem vi o filme “Cópia autenticada” do realizador Abbas Kiarostami) O filme é muito maior do que o excerto que transcrevi da poetisa romena MJoseph D do livro “Acerca da beleza do jardim desfolhado” . Vale mesmo a pena ver.
Filed under: Project Fountain | Etiquetas: Fonte das Palavras, Poesia, Projecto Editorial
Apartado-Posta restante
Hoje saí para a rua e nem pensei em mais nada que não fosse sair.
Porque a casa e todas as casas seriam demasiado pequenas.
Quando se ri por não saber cumprimentar as flores devidamente, quer dizer que se ama.
Sim. Amar com a convicção exemplar dos suícidas, claro.
Isso é assim exactamente. Pode-se morrer e renascer tantas vezes por dia que as funerárias amorosas serão o negócio mais florescente que algum dia puderá existir. E decerto este anseio que reverdesce é feito de pétalas que nos turvam. Benditas .
Amar assim faz dos jovens tontos e dos velhos saudosos. Mas sair de casa à pressa deixa sempre parte da razão.
Os jovens admiram o que acham que hão-de ultrapassar, e os velhos dizem que querem acreditar que agora sabem que nem sempre valerá a pena sair de casa.
(poema de Trails F forg. raduzido por Trans. Correct)
Qualquer dia hão-de comercializar comprimidos para chorar.
Se eu morrer, inadvertidamente, fora do tempo que se espera;
Decerto naturalmente matas o sonho de eu ser uma das asas do corpo que imaginei pudessemos ter.
A diferença do que era ter sido presente, eventualmente, durante uns dias, fará com que ponhas a mesa com um lugar para a minha ausência. Sentirás nos objectos o registo de mim, saberás que eu sem ser possível estar, fiquei a ressoar na chávena de barro como as mãos do oleiro .
E continuarás a ser silenciosamente tu mesmo, porque ninguém precisa do outro para respirar o que é. Desconfio que bem dentro de ti tens o espelho que te devolve o ser completo. O teu corpo autónomo é o casulo de uma borboleta inteira.
Já não se morre de amor, isso é doentio.
Mas fazer o luto é apropriado, e assim talvez chegasses a comprar os comprimidos que induzem o choro.
(Louise G. Traduzido por Rosalinda F. T.)