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Hoje acordei e no tecto comecei a desenhar circulos. Partes de circulos que se conjugavam com a parede. Na escola diriam que são exercícios mas é anterior; apenas estou com os olhos a desenhar. E as palavras pareciam aparecer. As tais que existiram e existem de cada vez que as convocamos.
Uma palavra sózinha estremece ou ressoa. E ao longo dos anos, as palavras que eu sei, habituaram-se a andar de braço dado. Juntaram-se amorosamente, por desejo de imaginar, pelo timbre selado do tom, ou quem sabe apenas para poderem pagar o arrendado do sonho e sobreviverem.
E se desejo poucas palavras, elas aparecem cada vez mais antigas e eu continuo a ir buscá-las, como se fossem palavras de aluguer, aderentes e com cola reposicionável. Ou então carimbos mágnificos (de magma original), feitos letra a letra até poder dizer uma que exista no catálogo oficial das existentes com patente.
Dispersão, concentração, pontos máximos e no entretanto pendular está a escrita. Então porque é que se rasura, se a finalidade é ser. Dúbio ou claro de uma só corda, ser de tal modo harmonioso e plásticamente concreto que já é outra coisa. O corpo é feito de palavras sobrepostas, pontuação e hesitações que se atiram; rasgos que vão atrás da luz e voltam desgastados,queimados, demasiado expostos.
Donde vem a necessidade de trabalhar um texto. Quanto tempo gasto a substituir palavras, a procurar onde declinar o verbo ou onde fazer cair a virgula. Sem usar a repetição, a menos que seja do dominio desejável para a forma final. Existem regras.
Não se escreve como se diz, nem se diz o que se pensa, mas escreve-se com palavras que não podem cruamente dizer com clareza o despropósito de entre tanto e nada.
Mas hoje a lua está linda.
Talvez que o mais certo seja ver sem traduzir. Quando vou na rua a andar e quando acordo e não tenho papel, nem caneta.
Não quero olhar para uma árvore e enquadrá-la, pensar numa pintura ou num poema; cegar-me a árvore no que ela é por si e a possibilidade de estarmos apenas a ser.
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