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Às vezes penso que mais vale estar calada, mas se nuns casos faz sentido noutros parece-me que é mais para me proteger. Pelos vistos esta é uma das vezes que arrisco a sinceridade não por desempenho opinativo mas porque este trabalho ( de Miguel Branco) no pavilhão branco do Museu da Cidade me deu força para acreditar ainda na Arte. Mesmo que através dela tenha ficado a consciência de como o artefacto é questionado enquanto supérfluo. A representação dos monges como contentores/corpo; obra trabalhada, olaria transformada para receber o que não se representa senão pelo lugar que pode conter o invisível que de outro modo não se poderia evocar. Talvez por isso o pedinte em barro, condição dos corpos que ao viver sabem da morte e partilham o mesmo chão; depois o bronze que guarda o registo segundo uma técnica, uma coisa produzida por um certo saber que une arte e ciência ( um certo saber técnico que permite a alquimia possível), tal como a impressão das borboletas. O enquadramento da aparente ausência, por falta de massa física, cria a presença do que as conchas das mãos fazem ao substituir as taças. Este para mim torna-se o ponto mais difícil de dizer, porque se as mãos se bastam, são as mesmas que moldam. Para mim é uma questão fundamental: tudo pode ser visto como intervenção, viver ocupa espaço, mas no que acho que se eleva e que para isso é tocado e alterado, ou melhor continuado no seu essencial, tem uma escolha ou é escolhido para o fazer, aí ainda me parece ser o valer a pena, dar a reconhecer aos outros, o que não nos pertence mas que tocamos ao sentir a existência. A extraordinária beleza da simetria das borboletas, nesta condição que pelos olhos se alimenta, integra o corpo; mas é na contemplação da sua representação (não a borboleta esvoaçante ou alfinetada em colecção, mas tranformada sem perder a referência reconhecível do ser vivo) que torna claro que apesar da carne definhar, o espaço interior guarda, revela, e pode perpetuar-se como um som.
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