Maria João Worm


Project Fountain
30 Janeiro 2012, 5:47 pm
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Amar

Lembro-me, já sem ter outra prova senão perguntar-te e tu concordares.

Lembras-te?

Foi encantador termos encontrado uma procissão de caracóis em Roma.

No Egipto tudo me pareceu queimado e triste e tu disseste que afinal não tinha sido grande ideia querer ver o que sonhávamos ser o Nilo.

Em Florença tivemos uma insónia histórica,

e no Japão brincámos como crianças sob as amendoeiras em flor.

Se tu disseres que sim eu sei que fomos exactamente assim.

(poema de Alphonse S.)

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Insisto na exposição no Museu de Etnologia com trabalhos de António Peralta
25 Janeiro 2012, 12:28 am
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Poderia deixar apenas ” ARTE SÔ. De tal modo me tocou a exposição que me pareceu tonto acrescentar palavras. Mas não resisto. Quem possa ir ao Restelo, ver esta exposição não perca. Infelizmente a imagem facultada pelo Museu corta o enquadramento, todas as histórias esculpidas vivem de um enquadramento que é de uma beleza e integridade que acho que faz o todo que andamos à procura. Uma felicidade estranha ao mundo das artes, por ser exactamente. E ao ser assim,  encontra a dificuldade de se catalogar e arrumar.

 Não existe lugar para um arrumo, nem deveriamos deixar que existisse, para tão extraordinário trabalho. Ele pode não ser sempre constante, mas isso não é exactamente perguntar? Ou pelo menos experimentar?

Está o Museu aberto aos sábados e domingos. E se vos acontecer o mesmo que senti, vale o esforço.



Arte sã, António Peralta
23 Janeiro 2012, 1:02 pm
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nuvens
22 Janeiro 2012, 1:31 pm
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Nas nuvens não se rasuram palavras, as frases são atmosféricas e transformam-se. Não há permanência de forma.

As nuvens dizem a vida e eu acredito que escrevem o que está no início da chuva. Na incontornável dureza de ser delicado em cada gota.

Conter o princípio e precipitar o ir sendo,

porque ninguém sabe quando vai chover.



Acerca de um filme a preto e branco; mudo
10 Janeiro 2012, 8:50 pm
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Crianças a brincar com fisgas, atordoam-se, sem se perderem. “we got almost lost”.

É interessante como a alegria é sempre condicionada e circunstâncial; excesso de sol.

Interessante a coreografia da caça que me faz lembrar o filme Mouchette.

Bonito o tempo e a expressão dos corpos e de todo o paraíso natural,

mas habitado nos papéis sociais.

Ninguém está liberto. Nem a Sra. que prefere sonhar o domingo na cama.

A diferença maior é que amar não é só jogo de caça, onde o pardal exibe o peito para ser atingido pelo caçador que se acha mais sedutor do que seduzido.

Encontrar a dor pode ser o preço da vontade de descobrir o outro e o próprio.

Mas há mais do que papéis e protagonismo, este é apenas um tempo de começar. Amar é outra coisa que não se cinge ao desejo pueril. Nem os Senhores se apropriam, nem as Senhoras estão disponíveis.

Dar ao outro o que é mais do que rendição ou subjugação é possível, quando cessa a licença de caça e existe vontade de ser mais do que desejo na primeira pessoa



Duas passagens
1 Janeiro 2012, 1:25 pm
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Existe uma música que sempre esteve presente. Um lugar geogramático onde as palavras dizem profundamente  o que nos escapa quando apenas  respiramos. O som da grafite parece uma conversa apressada à medida que hesito ou avanço nas nas palavras escritas. O meu coração não se parte é inquebrável, o meu coração morre e renasce porque continua. Mas doi em cada parte que morre e tornou-se habitual doer e eu fico por enquanto viva. Verão de 2008,  apanhei do chão um pardal pequeno, alimentei-o durante dois dias. Ontem parecia mais forte, hoje às 6 da manhã estava cheio de vida. A vida é vermelha e laranja, tem veios escuros e sobretudo canta a mesma música do ritmo de respirar que tudo o que existe vivo partilha. Mais uma vez, sem saber despedi-me da vida. Tive-o nas mãos que tenho quase sempre vazias. Ele aconchegou-se, entregou-se ao lugar quente e húmido que é outra caracteristica da vida. Mas também neste lugar de calor e água que cada um tem enquanto ser vivo, sabe-se que tem lugar a morte e que viver  é quase a doença mortal por excelência. O pequeno pardal morreu sózinho, num pano às riscas, sob o calor de uma lâmpada. Antes, às 6 da manhã, ainda os dois vivos, trocámos pensamentos e eu admirei mais uma vez, esta presença extraordinária da força ritmada que nos dá a vida. Olhei e senti-lhe o corpo. Pensei tão dentro de mim que foi como um acto religioso em nome da vida e da morte. Hoje já não existe o pardal e eu ainda sobrevivi. Ainda não o enterrei, fá-lo-ei amanhã, domingo, talvez bem cedo quando a luz não doi nem queima porque assim era o seu corpo frágil, despido, atravessado da mesma matéria das minhas mãos. Hoje a minha mão direita tem a forma de um ninho vazio.

 

17.30 29 de dezembro de 2011

Em dias de Inverno,  como este,  de céu azul.

Atravessando a alameda de plátanos,

as árvores estão cheias de pássaros que enchem com convicção o ar.

E o nosso corpo existe calado entre o restolhar das folhas que se pisam ou empurram.

É certo que o som irrequieto, tolda-nos.

Não  há acesso às nuvens, só à gravidade do chão.

O tempo existe porque o coração vive 

 e as árvores, inesperadamente cantam.