Maria João Worm


Poema e meio, ainda através do projecto A fonte das palavras
24 Março 2012, 8:47 pm
Filed under: Uncategorized

Se existem gestos que se integram no espaço envolvente, porque tropeço nas socas herdadas pelo Artesão.

Tenho vertigens, parecidas com achaques, encenações do corpo.

Pouca oxigenação no cérebro;

de facto a humanidade com a postura vertical como meio de locomoção,

deveria pensar melhor quando se deita.

Provávelmente o projecto do Artesão, ao dar apenas duas socas, seria uma ajuda para a integridade de se ser vertical.

Mas sinceramente, acho que não se trata de uma facilidade para colher maçãs-

Tenho as socas, são dois números acima do que se ajustaria naturalmente ao tamanho dos meus pés.

No Inverno dá geito usar meia grossas; nunca se sabe a ideia do Artesão.

De facto gosto de sentir os dedos livres e conseguir tamborilar dentro do calçado.

É música, assobio dos ossos. Flautas vermelhas e escuras. Parecem e são.

Bem vista a situação, o desiquilibrio e a dificuldade em andar, tem as suas vantagens.

Às vezes é mais claro.

Aparentemente tem o desconcerto elegante do modo como os patos caminham.

Exactamente porque tudo é transitório, registamos.

Criamos um mundo que descansa aparentemente.

Mundo paralelo ao Tempo.

Tem conversa e parece que prolonga a sombra das árvores;

na selvagem alegria das ervas que nascem assim.

Arte ligada à Vida. Mas sempre contida, nem cabeça nem cérebro, nem embuste (um busto envergonhado, uma posta cortada no plano estético). Porque é que um retrato pode ser, uma parte,  um rosto; e o resto do corpo? Não sei de quem deveria vir a vergonha do embuste.

Há um sussurro constante,  penso que é a Vida.

Somos sempre meninos na escola a aprender. Também somos os que não gostando da escola, aprendemos nas sombras frescas das árvores.

(o projecto está a terminar enquanto experiência,  este autor que eu própria traduzi ,  pediu-me . que o seu nome não fosse divulgado)

Advertisement