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É preciso tempo para que o lago torne visível o reflexo.
Em dias de vento apaga-se a imagem. Depois pára um instante e o espelho torna-se claro.
Mesmo tudo aparentemente parado pede tempo.
O lago fundo, a superficie, as cores limitadas dos tubos, os olhos a tentar ver.
Representar o lago, copiar o impossível, estar ao pé dele sentada.
Belas as árvores e o lago que sempre todos os dias reflecte.
Quantas pessoas, patos, nuvens, sons de carros e até aviões, terão ficado registados na superfície do lago.
Mas o lago diz : hoje, agora.
E amanhã tudo recomeça.
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O lago tem a mesma cor da água onde lavo os pincéis.
Mas se no lago, as árvores, o chão e por vezes o céu aparecem em espelho.
O copo onde lavo os pincéis fica mudo. Nele fica residual a matéria das cores.
É mais fisico o que tenho no copo dado a poucas palavras, do que no lago etéreo.
Poderia ter tirado a água que está dentro do copo directamente do lago. Aparentemente poderia ser exactamente assim.
Mas no copo calado, não se definem as formas, é um copo cheio de um magma que esconde em si a leveza da cor mas nunca a representação do que vejo.
Acho que ele não se importa e eu também não.
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Tenho tido algumas conversas entre o que faz de um desenho ser um desenho , ou um esboço preparatório.
Mas nada disto aconteceu quando, os patos e o cão que acompanham o Sr Hipólito chegaram ao encontro feliz de perceberem que muito provavelmelmente estavam de acordo.
O Sr Hipólito tem uma certa altura, de facto para quem anda com o corpo mais perto da terra, seja pelas patas curtas seja porque lhe está vedada a raça Hipólita dos que ficam com a cabeça perto das nuvens. Existe um ponto de vista que permite a alegria de partilhar uma mesma experiência.
Conclusão, cá debaixo, como eu e outros de tamanho mais pequeno do que o Sr referido, acontece um fenómeno fantástico. A determinada hora do dia, quando a luz lhe atravessa as narinas e as deixa alaranjadas e com uma substãncia de vitral carnal, as sua narinas vistas cá de baixo, transformam-se em portais magnificos. Arcos de catedrais de respiro.
Patos, o cão, alguns pombos de passagem, pequenos pardais mais dados ao sentido franciscano das roupagens, mesmo gaivotas com alguma dificuldade no pousar para ter o ângulo certo, andorinhas muitas e formigas com excelente visão. Todos estão de acordo.
Os portais de entrada de ar do Sr Hipólito são narinas góticas, de um respiro espiritual atravessado de luz.