Maria João Worm


reflexo
24 Julho 2012, 9:49 pm
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É preciso tempo para que o lago torne visível o reflexo.

Em dias de vento apaga-se a imagem. Depois pára um instante e o espelho torna-se claro.

Mesmo tudo aparentemente parado pede tempo.

O lago fundo, a superficie, as cores limitadas dos tubos, os olhos a tentar ver.

Representar o lago, copiar o impossível, estar ao pé dele sentada.

Belas as árvores e o lago que sempre todos os dias reflecte.

Quantas pessoas, patos, nuvens, sons de carros e até aviões,  terão ficado registados na superfície do lago.

Mas o lago diz : hoje, agora.

E amanhã tudo recomeça.

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estar
8 Julho 2012, 4:03 pm
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O lago tem a mesma cor da água onde lavo os pincéis.

Mas se no lago, as árvores, o chão e por vezes o céu aparecem em espelho.

O copo onde lavo os pincéis fica mudo. Nele fica residual a matéria das cores.

É mais fisico o que tenho no copo dado a poucas palavras, do que no lago etéreo.

Poderia ter tirado a água que está dentro do copo directamente do lago. Aparentemente poderia ser exactamente assim.

Mas no copo calado, não se definem as formas, é um copo cheio de um magma que esconde em si a leveza da cor mas nunca a representação do que vejo.

Acho que ele não se importa e eu também não.



Narinas góticas
6 Julho 2012, 11:44 pm
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Tenho tido algumas conversas entre o que faz de um desenho ser um desenho , ou um esboço preparatório.

Mas nada disto aconteceu quando, os patos e o cão que acompanham o Sr Hipólito chegaram ao encontro feliz de perceberem que muito provavelmelmente estavam de acordo.

O Sr Hipólito tem uma certa altura, de facto para quem anda com o corpo mais perto da terra, seja pelas patas curtas seja porque lhe está vedada a raça Hipólita dos que ficam com a cabeça perto das nuvens. Existe um ponto de vista que permite a alegria de partilhar uma mesma experiência.

Conclusão, cá debaixo, como eu e outros de tamanho mais pequeno do que o Sr referido, acontece um fenómeno fantástico. A determinada hora do dia, quando a luz lhe atravessa as narinas e as deixa alaranjadas e com uma substãncia de vitral carnal, as sua narinas vistas cá de baixo, transformam-se em portais magnificos. Arcos de catedrais de respiro.

Patos, o cão, alguns pombos de passagem, pequenos pardais mais dados ao sentido franciscano das roupagens, mesmo gaivotas com alguma dificuldade no pousar para ter o ângulo certo, andorinhas muitas e formigas com excelente visão. Todos estão de acordo.

Os portais de entrada de ar do Sr Hipólito são narinas góticas, de um respiro espiritual atravessado de luz.