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Estranhava a cor dos azulejos.
Muitos eram lejos em vez de azul
e eram tácteis em vez de serem.
Sugavam-me e transpiravam um tom de som,
de confissões de cerâmica e lembrança de barro.
Vozes antigas, pessoas, tempo.
Obituário circunscrito.
Território quadrado e delimitado.
A travessa é a luz branca que sobressai e fica.
O mundo já sempre foi : diz a parede inteira
mas não é uma só voz
é um coro.
Em que se tiveres atenção, há em cada um uma voz
que geme amarelo poroso de terra e invenção santificada de azul.
(Os verdes,
imitam os verdes)
Nas paredes não se grita, nem sequer o que a tinta lhes escreve por cima.
Morremos sózinhos mas fazemos um padrão.
E depois perceber que não são pessoas que escrevem poemas de cabeça que vão salvar o mundo.
O som nas árvores de folha perene
está preso sem constrangimento.
Ficam os pássaros e os gatos ao sol
que oscilam no que consigo,
na sombra branca da roupa lavada.
Letra capitular
lembra a geografia vertical dum mapa.
Tinha pena,
verdadeira e sentida pena,
quando na escola
olhava o Portugal Continental
suspenso por um fio à parede.
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