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(desta vez a imagem é a escolha de ser vossa) Tem um verde carnudo e intenso, tem também a cor das folhas que caem agora: o vermelho que é castanho onde se dobra. E ao caírem desenham com vagar o movimento de um traçado, como nunca saberei dizer.
Um caracol come um pé de morangos, que de flor branca deu fruto, beija-o, a julgar pela forma que fica marcada. Mas beija com uma tal intensidade que só é possível perceber na parte do morango que desaparece em forma de cratera. Também alterna na experiência que tem com a folha dura de uma malagueta vizinha. Anda a deambular, espero que livremente, entre o doce e o picante.
Vejo-o satisfeito, nunca o vi no acto. Por vezes apresenta-se de barriga para o ar. Deleitado aparentemente.
Já o pé que se resolve em morangos, diz de outro modo. Fica como é comum aos vegetais, abre os braços de folha carnuda para o sol, na maravilha de fotossíntese. Deslumbrante. Translúcido com a assinatura de não ser uma couve, mas tal como as roseiras, destemido, neste caso aberto aos poros atirados para donde vem a luz.
Passa um pisco, com a sua cauda sensível, com código Morse directamente à medula de se estar agora aqui.
Uma mosca, nunca ambiciosa, quase zune, quase como uma abelha. Senta-se arranja a sua perspicácia, limpando-se.
Que vadiagem tão boa.
O que se pode passar numa floreira.
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Não me apetece falar muito. É Outono. Posso ter tempo para me debruçar sobre as folhas. Ainda bem, penso eu.
Não avanço. Não por medo. Tenho muito medo mas não assim.
Tanto é feito. Que eu espero. Visitas de filmes, álbuns.
Visita-me o nascer de tomateiros e morangos. Que maravilha é assistir, o tempo a marcar a sua presença. Quem sabe disto, dirá que primeiro vem a flor, a cor escondida por dentro do fruto.
A pintura hoje parece-me isso, a cor que está por detrás, o céu é vermelho e tem azul por cima, A quem pinta dever-se-ia perguntar: que cor dá a cor ao aparente. Que cor está debaixo do que se vê.
Uma rapariga viváz como as flores na primavera perguntou-me: Quantas vezes já foste violada.
Na altura senti-me uma criança, a brutalidade da pergunta não me pareceu estranha, recebi-a, no lugar onde ficam as frases a que não se sabe o que responder. Mas nunca mais me esqueci, pelo menos até hoje.
É interessante a ascensão e a queda. Movimentos que pressupõem um ponto donde se define a neutralidade ou a sobreposição coincidente do momento inicial. Depois o para cima e o para baixo, numa mesma direcção.
Como um reflexo num lago calmo, num dia sem vento. A queda (se entretanto fomos em direcção à luz, como a natureza verde) vai no sentido de encontro. A ascensão no do afastamento.
Ou se fica, ou se regressa ou partimos. Se passamos por tudo isto, desenhamos um gráfico.
O registo do batimento de um coração.
A Impermanência é uma das qualidades de se estar vivo.