Maria João Worm


O Presépio (este ano)
24 Dezembro 2015, 2:09 am
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presépio

Ficam de um ano para o outro numa caixa, adormecem de lado numa cama de papel. Já não me lembrava que da última vez os induzi no sono com papéis de cores diferentes. O cordeiro, da mesma cor do rebanho, mais o burro e a vaca. Papel de seda. Por afinidade o anjo ficou com o mesmo papel do pastor.

O jaguar com um corpo de estrelas simples, que quis vir do México connosco, ainda sem ter dormido em papel, chamou outros para estarem presentes. E ficou, no estar Agora assim. Agradeço à lebre que relata deste modo:

 

Naquele tempo, quando as montanhas eram acariciadas pelas árvores e as casas eram térreas, aconteceu um dia perceber o lugar da noite (quem escreveu riscou o que segue) aconteceu num dia, uma noite.

Foi quando uma mãe, com a sabedoria de dar à luz como as estrelas tão antigas, cintilou a passagem e parou o Tempo.

Foi então que um elefante branco fez descer um jaguar do céu, enquanto uma mulher depois de lavar a roupa numa fonte, passou o caminho do riacho.

Tinha espalhado a roupa branca pelo chão para que secasse na altura do Sol mais intenso e ao recolhê-la adivinhou em cada peça formas, como quando se olha para as nuvens. Uma camisa pareceu-lhe um pato, outra um urso branco a brincar, outra um carneiro com um rosto de um cão. Até viu uma lebre, nas dobras de um lençol, que estava a escrever a tinta azul numa folha branca sobre uma mesa. Sorriu.

Mais tarde, ao anoitecer, um pastor bebeu água da mesma fonte e soube que a frescura sentida por dentro era o reflexo das estrelas a tremeluzir no riacho.

Tudo indicava ter em si o início.

As ovelhas e carneiros exalavam um bafo morno de vida. À tardinha tinha passado um burrico e ele lembrara-se da infância. Uma vaca com a língua áspera a lamber-lhe a mão.

Então fez-se silêncio.

 

(Natal de 2015 depois de ter aparecido o presépio)

 

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O Tempo de Planck
10 Dezembro 2015, 12:24 am
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Diniz Conefrey

Imagem gentilmente cedida pela Tate Gallery

Como li pareceu-me que no princípio seria o ínfimo e nesse lugar todas as partículas eram incaracterísticas, no sentido de não haver confronto entre elas.

Sujeitas pelo exterior a uma mudança, elas terão seguido a sobrevivência transformando-se segundo o momento e o potencial que então se revelou. Assim cada uma se tornou um caso e existe pela primeira vez a individuação. Cada expressão de vida não é consciente mas ocorre dessa necessidade ou impulso de sobreviver.

Com características diferenciadas, juntam-se com outras afins, ou repelem outras. Criam-se grupos. Cria-se movimento, confronto. Uma malha, uma tessitura, que acolhe seres diferenciados, o que abre o movimento do tempo: Impermanência e perpetuação como resposta.

Começa a escrita ou seja o registo de uma assinatura em cada pequeno ser individual. E a continuidade de cada conjunto de características. Pelo simples sentido da atracção, reconhecimento, e ou repulsa, por aversão ao desconhecido.

E assim fomos expulsos do Paraíso.