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Ficam de um ano para o outro numa caixa, adormecem de lado numa cama de papel. Já não me lembrava que da última vez os induzi no sono com papéis de cores diferentes. O cordeiro, da mesma cor do rebanho, mais o burro e a vaca. Papel de seda. Por afinidade o anjo ficou com o mesmo papel do pastor.
O jaguar com um corpo de estrelas simples, que quis vir do México connosco, ainda sem ter dormido em papel, chamou outros para estarem presentes. E ficou, no estar Agora assim. Agradeço à lebre que relata deste modo:
Naquele tempo, quando as montanhas eram acariciadas pelas árvores e as casas eram térreas, aconteceu um dia perceber o lugar da noite (quem escreveu riscou o que segue) aconteceu num dia, uma noite.
Foi quando uma mãe, com a sabedoria de dar à luz como as estrelas tão antigas, cintilou a passagem e parou o Tempo.
Foi então que um elefante branco fez descer um jaguar do céu, enquanto uma mulher depois de lavar a roupa numa fonte, passou o caminho do riacho.
Tinha espalhado a roupa branca pelo chão para que secasse na altura do Sol mais intenso e ao recolhê-la adivinhou em cada peça formas, como quando se olha para as nuvens. Uma camisa pareceu-lhe um pato, outra um urso branco a brincar, outra um carneiro com um rosto de um cão. Até viu uma lebre, nas dobras de um lençol, que estava a escrever a tinta azul numa folha branca sobre uma mesa. Sorriu.
Mais tarde, ao anoitecer, um pastor bebeu água da mesma fonte e soube que a frescura sentida por dentro era o reflexo das estrelas a tremeluzir no riacho.
Tudo indicava ter em si o início.
As ovelhas e carneiros exalavam um bafo morno de vida. À tardinha tinha passado um burrico e ele lembrara-se da infância. Uma vaca com a língua áspera a lamber-lhe a mão.
Então fez-se silêncio.
(Natal de 2015 depois de ter aparecido o presépio)
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