Maria João Worm


Reenviar a pergunta na data em que ainda se está vivo
2 Abril 2016, 5:43 pm
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Ou Vi o Tesouro

(OU VI O TESOURO, a expor na Galeria Monumental de 9 de Abril a 14 de Maio)

Ossadas elegantes, arquitectura tumular, morada de almas anónimas temporariamente confinadas num lugar. Repetindo o verbo, pois estar vivo é movimento. A casa/corpo é capaz de se copiar a si gastando o mínimo de energia. Tem alarme e um exército, não tão bem vestido quanto o do vaticano, é discutível… mas igualmente eficaz, por isso adoecemos tantas vezes. Se não se nasceu já doente.

Território a conquistar, conquistado pelo discurso, zona franca. Vontade transfronteiriça de voltar ao anterior. Desinteresse pelos riscos, depois de riscados,  com que uns muito parecidos connosco, capazes de igualmente gesticular ideias, desenharam a separação do chão. Talhão, horta, altura jazente de um corpo, encaixotar.

Perpetua o artesão, repete o gesto. As perguntas que vai fazendo descansam na impossibilidade de particularizar. Guardião do gesto, honestidade que não quer ser posta à prova, para além da sobrevivência. Sabedoria não transgressora, que funciona sem a arrogância de querer saber como o faz.

Arte, criatividade. Recreio de doenças belas, desejos expostos, segredos escondidos mais fundo. Lembretes do que não é preciso fazer. Ilusão melhor do que a que se fez com o dinheiro. Menos consensual, mas igualmente abstracta. Exercício de estilo que combina os pares, juntando o que não se quer mutuamente, obrigando a dobrar. Nada natural, desvio obsessivo, de colecção de relíquias, pequenas lágrimas de oiro, em lamelas a que se empresta o uso da transparência. Justificação do pensamento, demostração da inutilidade das ferramentas logo após as utilizar. Capacidade de fazer fumo sem fogo, porque é por o evocar que talvez se apresente, embora possa parecer representar não estando ele de corpo presente.

Fazer do corpo instrumento, osso oco, harpa eólica, aberto ao que o tocar. Mapas de andar à procura do que se nega ao início, ser sem assinar, ser assinado pela vida. Gostar de ouvir o eco, porque voltou. Afinal reconhecer.

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