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Enquanto nascia Maribel morria a sua mãe, levando assim consigo o que se sabia do pai.
Os mais gaiatos e os que não sabem de outra maneira, diziam que a Dona Mariazinha tinha morrido de susto. E olhavam de lado, confiantes de terem graça, sem darem conta da sombra das árvores, fresca e séria, de onde se lhes fitava o até que ponto é que se brinca com a morte.
Ora uma criatura de Deus, mesmo que feita à imagem do desastre, existe e é preciso ter piedade. Foi assim a menina criada para servir. E não fosse só o aspecto causa suficiente para a tornar diferente, coube-lhe um desmiolamento descarado que a trazia feliz todos os dias.
Antes assim-diziam as mulheres-Não sabe que aberração é. Diziam aliviadas de não serem como ela, por poderem exercer a bondade envenenada com que se matam as mulheres tristes.
As mulheres tinham acordado entre elas condenar Maribel a ser a mais feia e tonta. Todas saíriam em vantagem quando comparadas com ela.
Aos homens não foi pedido que participassem nesta avaliação. Eles, mesmo que evitassem olhar para Maribel, sentiam uma constante repugnância curiosa, aquele incómodo inquietante dos dias de Verão desocupados.
Mas se fossem consultados pontualmente, confirmavam a extrema feiúra de Maribel, a contrastar com a inequívoca beleza das mulheres e em particular acrescentariam a da sua consorte, fosse esse o caso.
-Se tens que o fazer, fá-lo bem feito!-dizia o velho que já não fazia mas havia feito.
À medida que ìa crescendo, acentuava-se no seu corpo a tendência de contrariar o que fora convencionado ser belo. As vozes piedosas abanavam a cabeça, sussurrando-coitadinha-, logo que a viam passar, muito feia e sorridente, a olhar para o que está atrás das coisas construídas. Um sorriso largo com gengivas e saliva aos cantos. E uma predisposição para o bem que preocupava o Sr Padre e todas as senhoras igualmente de bem, que bem ou mal, sabem um pouco de tudo e se regem pelos costumes onde penduram a roupa suja dos outros.
Maribel apreciava a luz. Por entre as folhagens, a tremeluzir na água, em pequenos brilhos espalhados no chão de pedra, nos vidros e no vitral colorido da casa do Conde del Bosque.
É certo que quando Maribel começou a limpar a casa do Sr Conde todas as quartas-feiras parecia ter encontrado um propósito consensual. E essa trégua de silêncio foi apenas tempo cumulativo onde germinava o que viria a seguir.
Bem visto, o casarão era grande e mesmo com toda a entrega de um dia inteiro a varrer o pó e a esfregar o chão, pareceu ao Conde que descobria agora o quanto necessitava de viver num ambiente limpo, pouco tempo. Assim Maribel passou a ir segunda, quarta e sexta-feira. Quanto mais limpa a casa ficava, mais sujas as conversas de quem se punha a adivinhar o que se passava dentro do casarão.
A pouca vergonha do Paraíso era intolerável. E o mau exemplo para os jovens e afinal quando é que o Padre vai falar com o Conde.
Não sei o que se passava dentro de casa. De facto Maribel apareceu com um vestido novo, foi vista com um lindo lenço de seda que pertencera à Condessa, continuava a sorrir e já indo isto tudo em ano e meio, nada de engravidar.
Quando Maribel se mudou para a casa do Conde del Bosque ninguém estranhou. No saco pequeno onde juntou o que tinha, ìa uma caixa com pedrinhas, daquelas que brilham com a luz. Mais tarde o Conde disse-lhe que eram pedras preciosas.
Mas dizem que tudo isto aconteceu porque o Conde via muito mal.
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