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Sentado a meio da escadaria, ao lado de um líquen amarelado e de uma pequena flor azul, abre e fecha os olhos.
Contrai a cara quando um mosquito o toca de passagem. Reage estremecendo. Depois dedica-se de novo ao pensamento que por dentro surge como um insecto a esvoaçar na sala com a precisão de um desenho que pestaneja sincopado.
-Talvez eu não tenha conseguido conversar com os vivos.
De cada vez que me lembro, recordo uma ou duas ocasiões em que o contacto foi directo. De resto houve sempre muitos encontros à volta de mesas; jantares, vinho, cervejas e fumo.
Ofereceram-me há muitos anos uma roseira de flores cheias, pétalas dobradas, cor de veludo macio de vermelho profundo até rosa escuro.
As flores são anunciadas por folhas avermelhadas, que a seu tempo se tornarão verdes, logo depois de empurrarem o tom carmesim até ao lugar onde o botão se enforma.
Estas rosas de mão cheia são tão belas que não sei descrevê-las, embora saiba o toque e lhes sinta o cheiro quente e único.
Gosto de ter apenas este pé de roseira. Assim, para cada flor, tenho a devida atenção podendo apreciá-la.
Quando o casal que me ofereceu a roseira morreu, no intervalo de poucas semanas, também a estaca central da roseira secou.
No ano seguinte duas hastes fortes nasceram e hoje uma delas encimada por uma rosa aberta olha em frente e faz companhia a um botão que aponta o céu com firmeza.
Agora, enquanto a descontração das folhas ao vento acena a quem passa, ouço a zunir por dentro que em breve se desfolharão as flores.