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Perder faculdades
não é faltar às aulas do ensino superior
e claro é, que no desaproveitamento convencional
do acesso à informação, se apreende o que fica
no lugar sem nome
que é a dúvida sem fundamento:
Os cogumelos que crescem junto à raíz daquela árvore são grumosos,
bizarros na forma.
Pequenos mas monstruosos.
Não sei se são venenosos.
.
Quando morre alguém a meio de um trabalho
e outro alguém, ainda vivo, o continua
sinto uma presença mais viva do que estar vivo.
Lembrar, dando corpo ao outro corpo desaparecido
pode ser o caso transvestido do amor que se completa no encontro da impossibilidade.
.
Se pensarmos que o meu corpo é habitado por mim mas que poderia ser habitado por ti
se tu tivesses nascido no meu lugar.
E apesar de nos nossos gestos diferentes existir a mesma responsabilidade de habitarmos um terreno baldio,
Sabemos que em nós está presente, a imperfeição de não sermos o outro.
(Esther F. W. W. tradução de Esther F. W. W.)
Spectacles
Já sabes que eu não sei
mas especulamos (à inglesa com óculos
de fundo de garrafa).
Às frases bonitas
empreende-se o trabalho da inscrição
como na corrente de ouro do relógio de bolso.
A eterna ignorância é um motor que se contraria.
O vazio define-se nos aros.
Justificando a pose nua de um adereço potencial.
Uma peça que permite o acesso embaciado das dioptrias
à ciência miope e estrangeira ao corpo.
É difícil ficar na erudição do tacto
que nunca quis mais do que sentir.
(poema de Louise G. Traduzido por Rosalinda F.T.)
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às vezes, a maior parte das vezes, falo à procura das palavras. Mesmo quando encontro a graça que serve para me encontrar com o outro defendendo-me deste despropósito que é estar acompanhada no mesmo lugar onde nos debruçamos sobre o vazio imenso. Com os amigos estou num grande navio de contornos mais nitidos. Do alto do coração que se entende como uma amurada e se define pelas marcas dos salpicos salgados. Não sei aceder nem partilhar apenas ficar. Desejar é conseguir inventar partes de livros. Imagens soltas em que se perde o propósito do discernimento da responsabilidade autoral. Por vezes tenho imagens nítidas de ilustrações, Animais que aparecem sobre o verde alagado de chuva que fazem com que ainda se enleve o sentido mais selvagem das minha últimas vontades. Tenho pensado que das memórias alteradas da minha infância guardo o corpo deitado de barriga para baixo. As unhas sujas da cor das coisas da terra e o coração a bater de encontro ao chão. Estar só eis de onde vim e para onde vou. O que permanece mais firme é a solidão. O que ainda gosto está preso no olhar que não consigo reter, o que amo usa as folhas das árvores e atravessa as estrelas que eu desconheço. Assisto desde criança a esta morte que se sente a viver. Vejo e morro em pedaços que se espalham como imitações de luz.
escrito e traduzido por quem se deu como Anónimo
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às flores pequenas que caem das árvores
eu só posso dizer que não saberia deitar-me debaixo da árvore e ficar à espera que me tocassem que me preenchessem ou me debruassem.
Não saberia fazê-lo porque já me tenho com tudo contado e assim não sei senão contar o tempo nesta coisa que nos ensinam.
Lembro-me de um sentir que desatento do seu próprio corpo era o lugar onde caíam as flores.
posso invocar mas já não sou capaz de me encontrar sem dar conta disso.
(Louise G. traduzido por Trans. Correct)
às vezes não tem graça tocar realejo
A pressão que sinto no peito é um aviso, eu sei que é um aviso que de dentro empurra para fora e que resiste à força da pressão exterior.
Não sei quem começou a fazer força. Não sei se fui eu que me enchi demasiado
ou se de fora me apertaram e eu reajo.
(Trails F. forg. traduzido por Rosalinda F.T.)
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História de Amor
Encontrei uma flor num muro. parecia um fóssil
No tecto da casa havia outra flor que por vezes parecia um rosto.
deformava-se com a ajuda da luz e da persistência.
Quando insistimos em olhar as imagens,
o desejo de fazer coincidir o olhar com o tempo,
não consegue o lugar de encontro,
entre demasiado e intensidade.
Apesar de todo o cuidado, os tectos e as paredes mudam.
Não se podem usar palavras com suficiente exactidão
para definir as paisagens que se servem sem julgamento.
Tudo o que existe fora deste lugar indica pela forma concêntrica
que estamos geográficamente na intersecção dos ossos.
E a carne que nos é servida é a do nosso coração.
Ocorre por vezes a eternidade, a desnecessária explicação da vida.
A morte densa e azul, feita de corpos fisicos,
aproxima-se da representação de uma alma táctil,
expressão traduzida a vermelho de um corpo opaco e pesado.
Este deserto onde o ar é quase irrespirável
sobrevive através de tudo o que anuncia a morte.
O sol está no chão e o o céu gravado em estrelas fósseis.
(texto de Louise G. Traduzido por Rosalinda F.T.)
O principe das mãos vazias
Carreirinhos são lugares
Que se podem percorrer
Exercicios do olhar
Que os pés deixam antever
Se cada passo que fica
Justifica um mais à frente
Mesmo que se repita
Vai sempre sendo diferente
Como os passos são precisos
Para definir os lugares
Os seus cabelos são lisos
De tanto os acarinhares
Escorregam os olhos suaves
Pairando pelo calor
Lembrando o vôo das aves
Nos dedos do teu Amor
(Poema popular de um anónimo, traduzido livremente por Mateus Oliveira W.)
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Quatro negras nuvens
Quatro nuvens negras podem parecer o bastante para preencher o céu,
cada uma com a tensão do relâmpago e a boca fechada no momento anterior ao trovão.
As nuvens negras em formação militar voam à altitude certa para taparem a luz.
E porque contêm o choro, a raiva de serem tão tristes e escuras, ficam suspensas a matutar numa morte lenta em vez de trovoada.
Quatro nuvens pretas transportam-se aos ombros.
Nem está frio nem está calor, está dormente, de dentro como de fora.
Cinza em pó que se cola a tudo, até à memória do sol .
Talvez que se lave na chuva, pode ser que se dilua na água e faça outras nuvens mais negras,
mas isso tem um tempo e nesse intervalo está a possibilidade de se vislumbrar o sol.
Assim só de relance mesmo que se sonhe com um chapão de luz.
Também fica bonita a luz a dançar entre as frestas do estore. Assim como se brincasse, num convite jovial, um teasing natural, e ninguém tem pressa de ter toda a luz de uma só vez.
Diz que cega ou encandeia, impossibilita o interesse.
Por isso puseram 4 nuvens negras no céu.
( poema de Florence U. , traduzido por Florêncio T.)
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Apartado-Posta restante
Hoje saí para a rua e nem pensei em mais nada que não fosse sair.
Porque a casa e todas as casas seriam demasiado pequenas.
Quando se ri por não saber cumprimentar as flores devidamente, quer dizer que se ama.
Sim. Amar com a convicção exemplar dos suícidas, claro.
Isso é assim exactamente. Pode-se morrer e renascer tantas vezes por dia que as funerárias amorosas serão o negócio mais florescente que algum dia puderá existir. E decerto este anseio que reverdesce é feito de pétalas que nos turvam. Benditas .
Amar assim faz dos jovens tontos e dos velhos saudosos. Mas sair de casa à pressa deixa sempre parte da razão.
Os jovens admiram o que acham que hão-de ultrapassar, e os velhos dizem que querem acreditar que agora sabem que nem sempre valerá a pena sair de casa.
(poema de Trails F forg. raduzido por Trans. Correct)
Qualquer dia hão-de comercializar comprimidos para chorar.
Se eu morrer, inadvertidamente, fora do tempo que se espera;
Decerto naturalmente matas o sonho de eu ser uma das asas do corpo que imaginei pudessemos ter.
A diferença do que era ter sido presente, eventualmente, durante uns dias, fará com que ponhas a mesa com um lugar para a minha ausência. Sentirás nos objectos o registo de mim, saberás que eu sem ser possível estar, fiquei a ressoar na chávena de barro como as mãos do oleiro .
E continuarás a ser silenciosamente tu mesmo, porque ninguém precisa do outro para respirar o que é. Desconfio que bem dentro de ti tens o espelho que te devolve o ser completo. O teu corpo autónomo é o casulo de uma borboleta inteira.
Já não se morre de amor, isso é doentio.
Mas fazer o luto é apropriado, e assim talvez chegasses a comprar os comprimidos que induzem o choro.
(Louise G. Traduzido por Rosalinda F. T.)
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Neste número 4 da revista é traduzido parte de um texto inserido num livro de viagens, aliás esta edição toda ela está relacionada com registos ligados a experiências relacionadas com viagens e diários.
Da varanda tenho uma piscina lá em baixo, não é muito grande mas a esta hora da noite é de um azul iluminado que tem verde; não muito mas tem, e as luzes debaixo de água fazem pestanas de luz. São como olhos iluminados debaixo de água.
As varandas têm grades horizontais para não parecerem grades. Servem para proteger da altura a que estamos perante esta luz que parece dizer, sem pestanejar, “mergulhar”.
O rio à frente é negro, sem olhos que nos chamem e nos queiram encandear. O rio nisso é sincero, profundamente verdadeiro, assustador.
Gosto de viajar para me ter e me sentir fora do hábito. É mesmo assim. Percebi que a minha estranheza com o conhecimento se prende nas águas profundas, onde está a indefinição. Aquilo que não se explica nem se tenta explicar porque é inteiro na irresolução.
Tudo o mais são pedaços, como nas fotografias. Ninguém pode enquadrar o tamanho inteiro do rio. Mesmo se conseguissemos seria a superficie.
Tenho entrado em várias igrejas. Pelo conforto de entrar num espaço fechado e fresco mas também pelo que nele se projecta. A forma em cruz da planta das igrejas românicas é simples, mesmo quando parece ser a união entre a linha vertical e a horizontal. Ligar o céu e a terra numa construcção fisica. Se entras nele és o ponto de encontro. Este é o meu lugar, o lado mais fisico.
Vi imagens de rara beleza e sei que a sua beleza está em terem sido construídas por pessoas que conseguiram transmitir o amor. O Santo António a segurar com cuidado e firmeza o menino, foi feito por alguém que se não teve um amor menino, filho ou outro, soube ver nos contemporâneos isso acontecer. Nada espiritual se acrescenta a isto. Isto em si é espiritualmente suficiente para unir o céu e a terra e atravessar o tempo.
Não posso, trabalho nos meus limites e já nem quero ser mais inteligente, quero apenas ser eu, com esta verdade em que se perde o pé. Venham as dúvidas. Venham conforme for acontecendo a vida que no fundo se perder o pé, tenho o esforço da braçada que vai fazer o coração bater mais depressa. Será possível que isto seja a minha paz? Neste momento parece mesmo verdadeiro.
Estou sózinha na mesma, com as pessoas continuo a fazer enquadramentos, como no desenho à vista. Um diálogo acertado em que gastamos o tempo ao mesmo tempo. Estou perante, nem adiante nem atrasada. Dentro do que posso vejo e deixo-me atravessar filtrando o que vejo. Escolho pouca coisa mas escolho. A água cega e estrangeirada da piscina provoca-me tonturas e convida-me ao suicidio mas a morte lenta do rio, com a água negra é para onde vou, já estando lá agora.
É para sempre, muito antes e depois de mim e encontro nela o meu lugar.
(Albertha S., 2006 viagem ao longo do rio Douro em Portugal, tradução de Mathilde Ferreira)
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Ainda do terceiro número da edição, encontra-se traduzido o poema ” Contemplação” de Alphonse S.
Nada nas árvores parece indicar que desejam ter sombras maiores,
nem me parece que algum lago deseje ser mais profundo.
Os peixes nadam e não me parece que fiquem tristes por não conseguirem caminhar.
As flores nascem com extrema beleza e embora nos obriguem a olhá-las, nada nelas existe que seja afectação ou vaidade.
As nuvens continuam a percorrer longos caminhos e quando chove ocasionalmente,
nunca é por vontade própria.
Os rios escorrem continuamente, sempre a nascer e não fazem perguntas.
Tudo parece serenamente amar o que lhe foi confiado da vida.
Tudo parece certo.
Um pequeno pássaro chega do céu e pousa num galho fino de um salgueiro, canta.
E tudo estremece com a mesma delicadeza intensa.
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O Project Fountain continua a decorrer. Desta vez apresento dois trabalhos traduzidos para português.
Entre Silêncio e Mistério há Mal Entendidos;
(Bem vinda seja toda a breve e irracional paz suspensa)
Talvez fosse mais fácil se todos tivessemos nascido projectados para a artificialidade.
Presos ao enquadramento equilibrado e à aparente e convicta eficácia da repetição.
Mas se o tempo vai copulando a um ritmo compassado, de cada vez, a sucessão do espaço é uma marca permanente da mudança que ao se abrir é consumada.
E se cada homem é um conquistador que de cada vez deseja perder o tesouro da sua encantadora e quase renovável ignorância,
Ingénuamente se perpetua a esperança que divide o que se é do que nunca mais se quer ser e que desaba.
(Tradução do poema de F. Elfridge M., de Mateus Oliveira W in Project Fountain #3)
Títulos
Os títulos têm o peso dos nomes próprios, seja qual for o processo para os encontrar a finalidade decorre da mesma vontade : denominar um espaço insubstituível de individualidade.
Decifrar o que se perde, ed. Trentsk, 2014, Louise Bernbrook
Com licença, desculpem se ocupo espaço, ed. Downtown, 2017, Oliver Wall B.
Desculpa, morri agora, ed. Downtown, 2018, Oliver Wall B.
NO PRELO para 2020
Matéria Prima, Matéria Bruta; Os homens são mineiros e sonham com vulcões, ed. Banana, Osvaldo M Seg. P.
A vida imbecil do Sr Empreendedor,ed. Trentsk, Louise Bernbrook
Roer as unhas; como continuar, ed. Douwntown, Albert C.V.O
Parar a tempo,ed. Helás, Robert Silver Great
(Francis S. B. traduzido por Mateus Oliveira W )