Maria João Worm


As árvores só morrem de pé quando as deixamos viver a sua vida
27 Maio 2015, 9:49 pm
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árvore

Alguém que olhe uma árvore, que seja convidado a ver e a senti-la, sabe que tem diante de si vida. Um testemunho de resistência, de verticalidade, de registo de tempo, uma ligação que ainda podemos fazer com a terra. Um exemplo de existência, autenticidade. Realidade que nos belisca o virtual e o conceptual e nos dá a possibilidade de sonhar a edificação da esperança.

Às árvores da minha vida, devo sombras de bem estar: pássaros, saber acompanhar as estações, compreender o envelhecimento, ganhar tronco, subir ao céu, descer para dentro da terra para alimentar a possibilidade das folhas verdes que se renovam. A lentidão de existir. Mesmo a árvore da borracha não se apaga, dá a ver pelo seu modo gentil, o esforço hábil com que faz e é cada folha, com nervuras únicas como as impressões digitais. .

Escrevo porque mataram hoje um eucalipto. Com serras eléctricas.

Pequenos homens encarrapitaram-se em longos ramos mais velhos do que eles e começaram a trinchar o corpo vivo de uma árvore. Como se estivessem a fazer desaparecer em bocados um elefante preso ao chão. Que não podendo reagir se foi deixando desaparecer pedaço a pedaço.

Sei que a decisão é da inteira responsabilidade da câmara de lisboa e que a justificação decorre de um parecer ( segundo este, o velho eucalipto estaria em risco de cair, pois uma braçada quebrou-se com o vento)

Tristes tempos em que morrem palmeiras, mas não há pior praga que a humana.